Esgotamento Sanitário

Já falamos aqui no blog sobre o tratamento e abastecimento de água, certo? Depois que utilizamos a água, ela se torna uma água residuária e entra no sistema de esgotamento sanitário. E esse é o assunto que vamos abordar aqui nesse post.

Conforme colocado pelo Instituto Trata Brasil em seu Manual do Saneamento Básico, “esgoto é o termo usado para as águas que, após a utilização humana, apresentam as suas características naturais alteradas. Conforme o uso predominante: comercial, industrial ou doméstico essas águas apresentarão características diferentes e são genericamente designadas de esgoto, ou águas servidas”. Nesse post iremos focar no esgoto doméstico.

Sistema de Esgotamento Sanitário

O sistema de esgotamento sanitário (SES) é o conjunto de instalações e serviços que coletam e transportam o esgoto até sua disposição final adequada e cada lugar pode ter diferentes concepções. Existem os sistemas unitários, separados e mistos.

O sistema unitário coleta todo tipo de efluente em um único coletor. Ou seja, coleta o efluente doméstico, industrial e pluvial, que é a água da chuva, sem nenhum tipo de separação. 

O sistema separado coleta o esgoto doméstico e industrial em um coletor e as águas pluviais em outro coletor. Este é o sistema usado no Brasil e permite que os efluentes de cada coletor tenham diferentes destinações e possam ser tratados separadamente.

Já o sistema misto, como o próprio nome sugere, recebe parte do esgoto sanitário e parte das águas pluviais.

Dessa forma, após ser utilizada, a água entra pelos ralos de nossas residências, comércios ou indústrias e entra no sistema de esgotamento sanitário do município, seguindo por uma tubulação que o encaminha para a estação de tratamento de esgoto (ETE).

Depois de passar pela ETE, o efluente (agora tratado) pode finalmente ser lançado no corpo hídrico receptor, que pode ser um rio, córrego ou riacho, por exemplo.

A água residuária, que geralmente chamamos de esgoto, é composta por poluentes suspensos e dissolvidos. Cerca de 99,9% do esgoto é composto de água e apenas 0,1% de outros dejetos (sólidos) e o SES é projetado considerando essa composição. 

Aqui cabe ressaltar a importância de não descartar outros resíduos (lixo) nos ralos e pias, como o óleo de cozinha, restos de comida e outros tipos de resíduos, evitando causar obstrução da rede coletora.

Em muitos casos, após ser coletado o esgoto não vai para uma ETE e é despejado diretamente em rios, córregos e riachos, mas não é o correto.

Impactos do lançamento de esgoto não tratado

Apesar do esgoto ter a maior parte de sua constituição composta por água, ele possui compostos que alteram a qualidade dessa água causando impactos negativos sobre o ambiente e também sobre a saúde humana, conforme já mencionamos nos posts sobre a qualidade e tratamento de água.

Os impactos do lançamento de esgoto sem tratamento estão relacionados à presença de matéria orgânica, macronutrientes e organismos patogênicos.

Matéria orgânica: O esgoto contém grande quantidade de matéria orgânica devido aos tipos de compostos geralmente utilizados nas residências (restos de alimento, gordura, detergentes, etc.), que são solubilizados ou ficam em suspensão na água.

Quando lançado no ambiente, muitos microrganismos se alimentam dessa matéria orgânica presente no esgoto e ao degradá-la, há o consumo do oxigênio presente na água.

Isso pode levar à uma redução drástica de oxigênio no corpo hídrico em questão que, por sua vez, pode ocasionar a mortandade de peixes e outros organismos aquáticos. 

Macronutrientes: O esgoto contém grandes concentrações dos macronutrientes nitrogênio e fósforo que são responsáveis pela eutrofização dos corpos hídricos, ocasionado alta produtividade de algas que, além de causar um desequilíbrio na biota aquática, podem produzir toxinas e inviabilizar o uso da água desse corpo hídrico para abastecimento, por exemplo.

Organismos patogênicos: O esgoto contém grandes quantidades de organismos patogênicos que podem causar uma série de problemas à saúde humana como diarréia por vírus, poliomelite, hepatite A, esquistossomose e diversas outras doenças quando há contato com o esgoto sem tratamento.

Então, além dos impactos ambientais oriundos do despejo de esgoto sem tratamento, há uma questão de saúde pública a ser considerada quando falamos nesse assunto.

Entretanto, no Brasil ainda existem muitos locais que não contam com o serviço de coleta de esgoto, tampouco com o tratamento deste.

Coleta e tratamento de esgoto no Brasil

Em 2017, segundo o Atlas Esgotos: Despoluição de Bacias Hidrográficas, lançado pela Agência Nacional das Águas (ANA), 38,6% dos esgotos produzidos no Brasil não eram coletados, nem tratados, ou seja, eram lançados a céu aberto. Outros 18,8% dos esgotos até eram coletados, mas lançados nos corpos d’água sem tratamento. Já os 42,6% restantes eram coletados e tratados antes de retornarem aos mananciais, o que é o correto.

De acordo com o Ranking do Saneamento (2021) divulgado pelo instituto Trata Brasil sobre a coleta de esgoto nos 100 maiores municípios brasileiros, “pouco mais da metade das cidades estudadas apresentaram indicadores superiores a 80% da população com coleta de esgotos, contudo, 35 grandes cidades apresentaram indicadores inferiores a 60%, sendo que oito deles atendem a menos de 20% com o serviço”.

Quanto ao índice de tratamento de esgoto (com relação à água consumida), das 100 cidades, “somente 23 cidades tratam mais de 80% do esgoto gerado, ratificando que esse é o indicador mais desafiador até mesmo para os grandes municípios. Juntos, os 100 maiores municípios do país tratam 62,17% de esgoto gerado”.

Portanto, ainda há uma série de desafios a serem superados quando se trata do saneamento básico no Brasil.

No caso do esgotamento sanitário, não basta apenas sanar a questão da coleta de esgoto, mas prever também o seu tratamento. Abordaremos melhor esse assunto no próximo post!