Tratamento da Água

Já trouxemos aqui a questão da disponibilidade hídrica e o abastecimento de água, certo? E conforme falamos no post sobre a qualidade da água, antes dela ser distribuída para consumo humano é preciso que haja a etapa de tratamento da água e é sobre isso que vamos falar aqui hoje.

Mas será que toda água recebe o mesmo tipo de tratamento?

A resposta é não. Diferentes usos da água requerem diferentes tratamentos.

Uma das principais razões pela qual tratamos a água para beber é devido à presença de organismos patogênicos que podem causar doenças.

Para alguns usos industriais, por exemplo, a água não precisa necessariamente atingir a mesma qualidade de uma água considerada potável. Então, não faz sentido que essa água seja tratada da mesma forma que a água para consumo, pois seria um gasto desnecessário.

Agora, quando falamos em água para abastecimento público, então sim, ela deve ter um tratamento um pouco mais intenso, pois é uma questão de saúde pública, como veremos a seguir.

E embora ela deva estar de acordo com os padrões de potabilidade, as estações de tratamento de água (ETAs) podem ter diferentes concepções.

Breve histórico

Sabia que séculos antes do nascimento de Cristo já se pensava na ideia de tratar a água para consumo humano? Pois é, os egípcios utilizavam técnicas rudimentares para tratar a água por meio da decantação em cisternas.

Essa técnica foi sendo aprimorada com o passar dos anos ao se notar certa relação entre a qualidade da água e a saúde, juntamente com os avanços técnicos e científicos no assunto.

O grande marco na área do saneamento ambiental ocorreu em meados do século XIX na cidade de Londres, com o Dr. John Snow que é considerado o pai da epidemiologia. Ele demonstrou em seus estudos a relação entre a morte por cólera e o consumo de água contaminada.

Posteriormente, no final daquele século, vieram as descobertas realizadas por Pasteur e Koch, que realizaram mais descobertas científicas sobre os mecanismos de transmissão de doenças infecciosas e agentes vetores que podem estar presentes na água contaminada.

Assim, entendeu-se que as águas de mananciais estão sujeitas a diversos tipos de contaminação, geralmente, por esgoto doméstico não tratado que contém diversos tipos de microrganismos patogênicos.

O tratamento da água

Conforme dito inicialmente, nem toda ETA é igual. A sua concepção, isto é, as etapas de tratamento não são necessariamente todas iguais mesmo que seja para abastecimento, pois isso depende da qualidade da água a ser captada.

Mas antes de falar mais sobre isso, vamos ver rapidamente quais as fases de uma ETA convencional.

Créditos: Grupo Água sua linda no Facebook.
Fonte: Água sua linda (Página do Facebook)

Após ser captada no manancial ou reservatório, a água é coagulada. Adiciona-se algum tipo de coagulante como sulfato de alumínio ou cloreto férrico, por exemplo, para desestabilizar as partículas de sujeira e ficar mais fácil de agregá-las para sua remoção da água.

Após a coagulação, essa água é floculada, onde há uma mistura lenta da água para provocar a formação de flocos dessas partículas coaguladas. Em outras palavras, formar flocos de sujeira para que ela sedimente.

Em seguida, a água passar pela sedimentação / decantação para separar os flocos de sujeira formados na etapa anterior.

Então, a água pode passar pela filtração para retenção da sujeira que restou da fase de decantação.

Após a filtração, a água passa pela desinfecção. Essa é uma etapa obrigatória para qualquer ETA. Corresponde à adição de cloro para destruição de microrganismos presente na água. Pode haver também a adição de flúor na agua, pois a substância ajuda a prevenir cáries.

Por fim, a água pode ser direcionada aos reservatórios para sua posterior distribuição à população.

Influência da qualidade da água de captação no tratamento

Agora que você sabe quais são as fases de um sistema de tratamento convencional, vamos entender porque a qualidade da água bruta / de captação é importante nesse assunto.

No post sobre a qualidade da água falamos que cada corpo hídrico tem uma qualidade diferente. Por isso, com exceção da etapa de desinfecção, as ETAs podem ter algumas variações em sua concepção, sendo mais ou menos complexa.

Vamos tentar entender melhor analisando situações hipotéticas:

Caso 1:

Imagine um lugar cuja água que abastece a população local vem de um manancial bem preservado, com uma água translúcida, cuja qualidade é consideravelmente boa.

Para se tornar potável ela não precisa necessariamente passar pelo tratamento convencional com todas aquelas etapas mencionadas. Ela pode passar por um processo mais simplificado que corresponde apenas à coagulação, filtração e desinfecção.

Caso 2:

Imagine agora um lugar cuja água que abastece a população local vem de um manancial que até vem sendo preservado, mas que não é mais uma água muito translúcida, apresenta um pouco mais de turbidez, contém um pouco mais de sólidos suspensos e talvez até alguma coloração (essas são características que apresentamos no post sobre a qualidade da água e interferem nos padrões de potabilidade).

Diferente do caso 1, essa água requer um tratamento adequado à essas características, certo? Então, pode ser inserida a etapa de pré-floculação, apenas. Assim, após a coagulação, a água seria pré-floculada antes de ser filtrada e desinfectada.

Caso 3:

Agora, imagine um lugar cuja água que abastece a população local vem de um manancial que não é preservado e sua qualidade não é boa. É turva, contém bastante sólidos suspensos, coloração e até cheiro.

Esse caso já requer um tratamento convencional e que pode ser usado tanto neste caso, quanto para um cuja água bruta tenha uma boa qualidade.

Então, agora deve haver as etapas de floculação completa e sedimentação / decantação. A concepção da ETA passa a ter as seguintes etapas: coagulação, floculação, sedimentação, filtração e desinfecção.

Considerações

Apesar de ser mais complexa e, consequentemente, mais custosa, a concepção tradicional se torna mais flexível em relação às anteriores, pois caso haja alterações na qualidade do manancial, essas etapas podem ser ajustadas conforme a necessidade.

Além disso, a concepção tradicional pode ser ainda mais aprimorada, inserindo outras operações unitárias como a fluoretação e correção de pH, por exemplo. Novamente, a qualidade do manancial interfere fortemente nessa decisão.

A grande maioria das ETAs no país segue essa concepção tradicional, pois a qualidade dos nossos mananciais, infelizmente, não é a das melhores.

Dessa forma, é importante salientar que além do tratamento de água e esgoto, é imprescindível que os órgãos e companhias responsáveis pelo abastecimento de água também se atenham à proteção dos mananciais e bacias hidrográficas.

Além de contribuir para manutenção e preservação dos recursos hídricos, minimiza os riscos de poluição e proporciona melhora na qualidade da água reduzindo os custos com o tratamento.