Vegetarianismo e Meio Ambiente

Existem diversas razões que levam as as pessoas à mudarem sua alimentação. Ao se tornar vegetariano(a) não é diferente. Mas você sabe o que o vegetarianismo tem a ver com meio ambiente ?

Para muitas pessoas, o vegetarianismo resume-se em apenas não consumir nenhum produto de origem animal, mas não limita-se a isso, apenas. As motivações e implicações vão muito além de “simplesmente” não ingerir carne. 

O vegetarianismo é o regime alimentar que exclui os produtos de origem animal. Conforme colocado pela SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira), existem variações de interpretação do termo por causa do dinamismo da linguagem, onde os principais tipos de vegetarianismo são:

(a) Ovolactovegetarianismo: utiliza ovos, leite e laticínios na sua alimentação.

(b) Lactovegetarianismo: utiliza leite e laticínios na sua alimentação.

(c) Ovovegetarianismo: utiliza ovos na sua alimentação.

(d) Vegetarianismo estrito: não utiliza nenhum produto de origem animal na sua alimentação.

Há também o veganismo que, segundo definição da Vegan Society, é um modo de viver que busca excluir, na medida do possível e praticável, todas as formas de exploração e crueldade contra os animais – seja na alimentação, no vestuário ou em outras esferas do consumo.

Panorama

Segundo a pesquisa do IBOPE Inteligencia, realizada em 2018,  cerca de 14% da população brasileira se declara vegetariana.

Em um estudo publicado pela Revista Ingesta do Laboratório de Estudos Históricos das Drogas e da Alimentação (LEHDA) – USP, os dados coletados por meio de questionário eletrônico, indicaram que a adesão ao vegetarianismo se deu principalmente por questões éticas relacionadas aos direitos dos animais, cerca de 92% dos participantes. Também identificaram outras motivações, como meio ambiente (56%) e saúde (35%), bem como questões religiosas e espiritualistas.

Além disso, o vegetarianismo também pode ser visto como “ativismo alimentar” que, junto com outros movimentos coletivos, não tratam apenas de comida. Envolve também as relações que se estabelecem  com outros seres vivos, com o meio ambiente e com as grandes corporações que atuam na produção dos alimentos, assumindo, assim, uma dimensão política.

Apesar do vegetarianismo não ser sinônimo de saúde ou de um estilo de vida saudável, o estudo aponta que uma parcela dos vegetarianos leva em consideração outros fatores intrínsecos à alimentação, como o consumo de alimentos orgânicos, locais e sustentáveis. Isto é, considera as práticas de produção do alimento, ausência de agrotóxicos, agricultura familiar e questões ambientais.

Portanto, existem diversas razões que levam uma pessoa a tornar-se vegetariana. Aqui iremos focar nas questões ambientais e discutir quais as relações entre o vegetarianismo e meio ambiente.

Desmatamento

Diversos estudos apontam que a pecuária é uma das principais responsáveis pelo intenso desmatamento, consumo excessivo de água, bem como emissão de gases de efeito estufa em larga escala. A indústria de produção animal, por meio do uso e da ocupação do solo, vem sendo apontada  como  principal  causador  do  desmatamento. 

Em 2019, o Brasil apresentou aumento no abate de bovinos, suínos e frangos, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Sendo que o abate de bovinos cresceu 1,2% em 2019, atingindo 32,44 milhões de cabeças, caracterizando-se como a terceira alta consecutiva na série histórica anual, após as quedas registradas entre 2014 e 2016. O abate de suínos aumentou 4,5% e atingiu novo recorde, chegando a 46,33 milhões de cabeças. E o abate de frangos também subiu 1,9% em 2019, depois de dois anos de queda, totalizando 5,81 bilhões de cabeças de frango.

Ainda segundo o IBGE, a aquisição de leite chegou a 25,01 bilhões de litros, com alta de 2,3%. Já a aquisição de couro caiu 5,0% em relação a 2018 ao somar 33,34 milhões de peças. A produção de ovos aumentou 6,3% e chegou a 3,8 bilhões de dúzias, novo recorde na série histórica iniciada em 1987. 

No caso do Brasil, a região da Amazônia é a que mais tem sofrido impactos dessa atividade. 

Dados do sistema Deter, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados hoje mostram que, entre agosto de 2019 e julho de 2020, houve um aumento de 34,5% nos alertas de desmatamento em relação ao mesmo período do ano anterior. Ao todo, foram 9205 km² desmatados, o equivalente a 1.100.000 campos de futebol. O mês de julho de 2020 registrou 1654 km² desmatados.

O desmatamento tem sido caracterizado como um dos principais problemas ambientais da atualidade. Isso porque a atividade gera, por consequência, diversos outros problemas como a perda da biodiversidade e recursos naturais, erosão do solo, extinção de rios, mudanças climáticas e desertificação, por exemplo. São problemas que a curto e a longo prazo terminam por afetar não apenas o ambiente local, mas toda área ao redor.

Emissão de gases de efeito estufa

A pecuária também é apontada como uma atividade que intensifica a emissão de gases do efeito estufa.

Conforme artigo publicado na AUN (Agência Universitária de Notícias) da USP, um dos impactos mais populares da criação de gado é a liberação de metano devido ao processo digestivo dos animais. Isso sem contar a liberação de fezes dos mesmos, quando emitem óxido nitroso (N₂0), composto com grande potencial para contribuir com o efeito estufa.

Isso sem contar que o próprio desmatamento para abertura de áreas de pastagem, mencionado anteriormente, é frequentemente feito através de queimadas, o que intensifica ainda mais o problema devido à poluição atmosférica ocasionada pela mesma com a emissão de CO2.

Água

Outra questão é a do grande consumo de água. De fato, a agropecuária é a atividade que mais consome água em todo o mundo, segundo o FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação).

Conforme a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a água utilizada nessa atividade deve ser em grande quantidade e de boa qualidade. Na avicultura, especificamente, essa importância é ainda maior considerando que além do uso normal, é também veículo utilizado na vacinação e medicação das aves.

Mas além disso, há outra questão relacionada à água na atividade pecuarista que é pouco difundida e é ressaltada pela Emprapa, que é a qualidade da água. Uma vez que esta é um fator de difusão de enfermidades infectocontagiosas e que oferece contribuição aos processos tóxicos infecciosos dos animais. 

Poluição e contaminação

A poluição dos ecossistemas aquáticos provoca alterações físicas, químicas e biológicas na água que será usada para o tratar dos animais. Frequentemente, essa poluição vem da própria criação do gado, devido a deposição de seus dejetos no solo que, por conterem diversos microrganismos patogênicos, terminam por contaminar os recursos hídricos locais.

Isso intensifica a ocorrência de doenças por veiculação hídrica no meio rural, tanto para os próprios animais como para a população local.

No Brasil, especialmente, essa questão é ainda mais relevante quando consideramos o panorama do saneamento básico do país, por exemplo, onde muitas regiões não possuem ou contam com um precário sistema de tratamento de água e esgoto. 

Outros tipos de contaminação também devem ser levadas em conta, como as oriundas de carcaças e de outros resíduos gerados na produção animal.

Por essa razão, diversos estudos são conduzidos nessa área a fim de eliminar e minimizar tais impactos, bem como tornar uma atividade que além de rentável, seja sustentável. 

O que fazer?

Como pudemos constatar, há uma estreita relação entre o vegetarianismo e meio ambiente.

Apesar disso, por mais que queiram, muitas pessoas alegam não conseguir deixar se consumir carne ou outros alimentos de origem animal. De fato, não é uma mudança fácil.

No entanto, você não precisa alterar sua dieta alimentar do dia para a noite. Comece aos poucos. Já ouviu falar da segunda sem carne?

A Campanha Segunda Sem Carne visa conscientizar as pessoas sobre os impactos do consumo de alimentos e produtos de origem animal, bem como propor a substituição da proteína animal pela vegetal, pelo menos uma vez por semana.

Você pode começar assim. Eliminando os alimentos de origem animal de sua dieta aos poucos, no seu tempo. Observe como você se adapta com essa pequena mudança e intensifique conforme notar que consegue.

Uma dica é juntamente com isso, manter-se sempre informado. Pesquise, leia e fique por dentro do assunto para que não se esqueça de suas reais motivações para essa mudança e para que de fato tenha um sentido na sua vida.

Pequenas atitudes transformam o mundo! 💚