Qualidade da Água

Você sabe o que determina a qualidade da água? O que determina sua potabilidade e quais critérios definem seus usos?

Conforme já mencionamos aqui no post sobre disponibilidade hídrica e o abastecimento de água, a água é um recurso que possui múltiplos usos, ou seja, pode ser usada para diversos fins: consumo humano, lazer, irrigação, etc.

A água deve estar apropriada para cada tipo de uso e, por isso, deve ter sua qualidade avaliada, ou seja, sua características físicas, químicas e biológicas precisam estar de acordo com sua utilização.

Classificação e padrões de potabilidade

A resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) 357/2011 dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes.

Assim, no caso da água doce há 5 tipos de classes:

Fonte: TRATAMENTO DE ÁGUA PARA
CONSUMO HUMANO – Capítulo 17 (Elsevier).

Como podemos observar, com exceção da classe 4, todas as demais podem ser destinadas ao abastecimento público desde que passem por algum tipo de tratamento, conforme descrito.

Para isso, a qualidade dessas águas deve sempre satisfazer os padrões de potabilidade que são estabelecidos pelos órgãos competentes, com base em critérios que visam à garantia da saúde do consumidor, conforme colocado pelos autores do texto “Tratamento de Água para Consumo Humano” da Elsevier.

No Brasil, encontra -se em vigência o Padrão de Potabilidade fixado através da Portaria MS 2.914 de 12 de dezembro de 2011 do Ministério da Saúde (MS) que adota critérios físicos, químicos, organolépticos, bacteriológicos e radiológicos, definindo os valores máximos permitidos e estabelecendo a frequência mínima de amostragens.

Monitoramento

No Brasil, o monitoramento da qualidade das águas superficiais e subterrâneas é feito pela Agência Nacional das Águas (ANA), com base nos dados fornecidos pelos órgãos estaduais gestores de recursos hídricos.

Através do acompanhamento, a ANA faz a gestão para conceder outorgas de direito de uso da água, realizar estudos e planos, etc.

Cada Estado monitora a qualidade das águas superficiais de seu território e pode adotar diferentes critérios e parâmetros, mas há um principal indicador qualitativo que é usado no país para avaliar a qualidade da água para abastecimento público: o Índice de Qualidade das Águas (IQA).

O IQA incorpora nove variáveis consideradas relevantes para a avaliação da qualidade das águas: Temperatura da Água, pH, Oxigênio Dissolvido, Demanda Bioquímica de Oxigênio, Coliformes Termotolerantes, Resíduo Total, Nitrogênio Total, Fósforo Total e Turbidez.

Alguns dos principais parâmetros analisados
Cor, sabor e odor

A cor da água pode sofrer alterações devido a existência de substâncias na mesma, como ferro, manganês, matéria orgânica e, principalmente, pela introdução de esgoto.

Quanto ao sabor e odor, estes podem ser resultantes de causas naturais do corpo hídrico, mas também por interferências antrópicas. Para que a água seja potável, deve ser inodora.

Temperatura da Água

É um parâmetro físico que mede a intensidade de calor. Apesar da temperatura de um corpo hídrico variar naturalmente em função das estações do ano, o lançamento de efluentes com altas temperaturas em um corpo hídrico pode causar impactos negativos no mesmo.

Influência em algumas propriedades da água (densidade, viscosidade, oxigênio dissolvido), com reflexos sobre a vida aquática. Isso porque os organismos aquáticos são afetados por temperaturas fora de seus limites de tolerância térmica, ocasionando impactos sobre seu crescimento e reprodução, alterando toda a biota aquática naquele local. 

pH

É o Potencial de Hidrogênio, um parâmetro químico  que indica se a água é ácida, neutra ou alcalina.

Cada corpo hídrico tem seu valor de pH que vai depender se sua origem e características naturais, mas assim como a temperatura, pode ser alterado quando o corpo hídrico está exposto à alguma fonte de poluição e contaminação. É uma variável que afeta o metabolismo de várias espécies aquáticas, podendo também aumentar o efeito de substâncias químicas que são tóxicas para organismos aquáticos. O Ideal segundo a Resolução CONAMA 357/2005 é entre 6 e 9.

Turbidez

Refere-se à transparência da água que é afetada pela presença de materiais em suspensão.

Quanto menos transparente for a água, mais turva ela está e isso se deve à presença de matéria em suspensão na água, como argila, silte, substâncias orgânicas finamente divididas, organismos microscópicos e outras partículas oriundas de processos de erosão do solo, mineração e lançamento de esgoto não tratado.

Resíduo Total

Quando os resíduos sólidos se depositam nos leitos dos corpos d’água podem causar seu assoreamento, além de causar danos à vida aquática. Ao se depositarem no leito, os resíduos destroem os organismos que vivem nos sedimentos e servem de alimento para outros organismos e ainda danificam os locais de desova de peixes.

Coliformes Termotolerantes

É um parâmetro biológico que indica a presença de microrganismos patogênicos na água. Os coliformes termotolerantes são bactérias que ocorrem naturalmente no trato intestinal de animais de sangue quente, inclusive seres humanos. Estão presentes em grandes quantidades nas fezes humanas, servindo como indicadores de poluição por esgotos domésticos.

Assim, sua presença em grandes quantidades na água indicam a possibilidade da existência de microrganismos patogênicos transmissores de doenças de veiculação hídrica. 

Oxigênio Dissolvido (OD)

Nos corpos hídricos existem diversas formas de vida, sendo a grande maioria microrganismos (organismos que não podem ser vistos a olho nú). Alguns destes microrganismos precisam de oxigênio para sobreviver (são organismos aeróbios) e degradar a matéria orgânica.

A água, naturalmente, contém oxigênio dissolvido, porém essa quantidade pode ser alterada quando o corpo hídrico está poluído, servindo então com um indicador de qualidade da água. 

Águas poluídas apresentam baixas concentrações de OD, pois o mesmo é consumido no processo de decomposição da matéria orgânica. Então, quanto maior a concentração de OD melhor, pois mais oxigênio terá disponível para oxidar a matéria orgânica. 

Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO)

É um parâmetro que avalia a quantidade de oxigênio necessária para que os microrganismos aeróbios façam a degradação da matéria orgânica presente na água.

Valores elevados de DBO geralmente são causados pelo lançamento de cargas orgânicas, principalmente por esgotos domésticos, implicando na diminuição dos valores de OD (oxigênio dissolvido) na água, podendo provocar a mortandade e eliminação de organismos aquáticos. 

Nitrogênio Total

O nitrogênio pode estar presente na água sob várias formas: molecular, amônia, nitrito, nitrato. Por isso o nome do parâmetro é nitrogênio total, pois considera as diversas formas do nitrogênio na água. 

É importante para o crescimento de algas, porém em excesso provoca a eutrofização do corpo d’água, isto é, causa um crescimento excessivo de algas. Sabe aquele lago ou rio todo verdinho por cima ? Então, em certa medida é normal, o problema é o excesso. 

O excesso de nitrogênio da água se deve ao lançamento de esgotos sanitários sem tratamento, efluentes industriais, fertilizantes por escoamento de aguas superficiais, fixação biológica por algas e bactérias, deposição atmosférica por águas das chuvas.

Além disso, o nitrogenio na forma de trinato pode causar a metemoglobinemia, enquanto que a amônia é tóxica aos peixes, causando a mortandade dos mesmos.

Fósforo Total

O fósforo pode estar presente na água na forma de ortofosfato, polifosfato e fósforo orgânico. Assim como o nitrogênio, apesar de ser essencial em processos biológicos, seu excesso também pode causar eutrofização. 

O excesso geralmente se deve a fontes de poluição por detergentes superfosfatados e matéria fecal, além de indústrias fertilizantes, alimentícias, laticínios e abatedouros.